Copa Sul-Americana: gol no fim dá vitória ao Lanús e complica o Fluminense nas quartas

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Copa Sul-Americana: gol no fim dá vitória ao Lanús e complica o Fluminense nas quartas

Como um gol aos 44 do segundo tempo virou a série

Um lance, a 1 minuto do fim. Foi o bastante para mudar a cara das quartas de final. O Lanús venceu o Fluminense por 1 a 0 em La Fortaleza, com gol de Marcelino Moreno aos 44 do segundo tempo, e leva para o Rio a vantagem mínima. O estádio, lotado com mais de 35 mil pessoas, explodiu. O Flu, que administrava o 0 a 0, saiu de campo com a sensação de que deixou escapar o resultado que queria.

O jogo foi travado por quase todo o tempo. Duas defesas bem montadas, poucos espaços entre linhas e quase nada de finalizações claras. O Lanús iniciou mais aceso, empurrado pela arquibancada. Explorou o corredor esquerdo, onde Moreno e Salvio buscaram triangulações. Em uma das melhores chegadas do primeiro tempo, Sasha Marcich apareceu solto e bateu por cima, tirando tinta do travessão. Não foi uma avalanche, mas já dava pistas de como os argentinos tentariam ferir: pressão curta, roubada de bola e velocidade.

O Fluminense segurou o ímpeto inicial e levou o jogo para o seu ritmo. Toque curto, paciência e muitas inversões de lado tentando abrir o bloqueio granate. Deu certo em parte: tirou o Lanús da zona de conforto, esfriou o ambiente e, por longos minutos, pareceu que o 0 a 0 seria o placar da noite. Faltou, porém, agressividade no terço final. A equipe rondou a área, mas finalizou pouco e mal. As jogadas de linha de fundo quase não saíram, e as bolas paradas não levaram perigo real.

Quando a igualdade parecia definitiva, veio o golpe. Cardoso acelerou um contra-ataque em bola longa, Aquino carregou com campo aberto e, na sequência da construção, Sávio cruzou com precisão para Marcelino Moreno chegar batendo. Fábio ainda tocou na bola, mas não evitou o 1 a 0. Foi a síntese do que o Lanús buscou: transição rápida, poucos toques, gente atacando a área. Foi também um castigo por um detalhe que o Flu não pode repetir no Maracanã: perder a bola desprotegido, com o time esticado.

O placar ganhou peso extra pelo contexto. O Lanús começou a série com cinco desfalques por lesão. Mesmo assim, o técnico manteve o plano: bloco compacto, experiência para segurar os momentos de pressão e gás dos jovens para acelerar quando o espaço aparecia. Funcionou. Moreno foi protagonista, Salvio deu opção por dentro e por fora, e o lado esquerdo foi o mapa do tesouro dos argentinos. Do outro lado, o Fluminense sentiu falta de profundidade e de atacantes atacando o primeiro pau. Faltou atacar a área com mais gente.

Há um ponto de regra que muda a conta para o jogo de volta: a Conmebol aboliu o gol qualificado. Não existe mais vantagem de gol fora. O 1 a 0 do Lanús é vantagem simples no agregado. O que isso significa na prática? Que o Fluminense precisa vencer por dois gols para avançar no tempo normal. Se ganhar por um gol de diferença, qualquer placar, a decisão vai para os pênaltis. Empate ou derrota eliminam o time carioca.

O ambiente também pesou. La Fortaleza fez barulho do início ao fim. As divididas foram quentes, o jogo ficou picado em vários momentos e o Lanús soube cozinhar quando foi preciso. O Flu respondeu com experiência, controlou o nervosismo e chegou inteiro ao fim. Mas em mata-mata, um vacilo basta. E bastou.

Por outro lado, a série está aberta. O Maracanã vira o enredo. Em casa, com apoio massivo, o Fluminense costuma acelerar o ritmo, recuperar a segunda bola e empurrar o adversário para trás. A dúvida é como equilibrar a necessidade de atacar com a proteção às costas. O Lanús mostrou que precisa de poucos toques para machucar. A gestão de risco será o tema da noite no Rio.

Vale lembrar o histórico. O Lanús sabe jogar mata-mata continental. Já ergueu a Copa Sul-Americana em 2013 e foi finalista da Libertadores em 2017. Não se assusta com estádio cheio. Já o Fluminense, acostumado a decidir no Maracanã, costuma crescer quando a temperatura do jogo sobe. É cenário de jogo grande.

O que o Fluminense precisa ajustar para o jogo de volta

O que o Fluminense precisa ajustar para o jogo de volta

O roteiro do segundo jogo é direto: o Fluminense terá a bola e o Lanús vai esperar a chance de transitar. Para avançar, o time carioca precisa transformar posse em chance clara. Não dá para repetir a noite de poucas finalizações limpas. Algumas chaves táticas tendem a definir o desfecho.

  • Amplitude real: abrir o campo com os pontas no pé da linha e laterais apoiando por dentro, para alongar a última linha do Lanús e criar corredor de cruzamento rasteiro.
  • Atacar a área com três: um no primeiro pau, outro na marca do pênalti e um infiltrando na segunda trave. Cruzeiro alto contra zagueiro argentino costuma dar em alívio da defesa. O cruzamento tenso, baixo, costuma gerar desvio e rebote.
  • Ritmo com aceleração: alternar posse paciente com esticadas de velocidade. Só toque-toque não fere bloco baixo; é preciso atacar a última linha quando ela está desorganizada, logo após recuperar a bola.
  • Proteção à transição: ao perder a posse, falta do bem feita no meio ou cobertura imediata do volante, especialmente pelo lado esquerdo defensivo, que foi onde o Lanús encontrou espaço.
  • Bola parada ofensiva: variações curtas para escapar do primeiro zagueiro e bloqueios legais para liberar o melhor cabeceador no segundo pau.

No plano mental, é jogo para paciência e frieza. O gol não precisa sair aos 10 do primeiro tempo. O importante é não se expor cedo demais. O Lanús quer exatamente isso: roubar no meio e correr no campo aberto. Quanto mais o Flu controlar o momento da perda, mais reduz a força do adversário.

Do lado argentino, a lógica é clara. Bloco médio-baixo, linhas próximas, volante guardando a frente da zaga e laterais atentos ao cruzamento rasteiro. Na frente, Moreno como referência criativa e mobilidade para atacar o espaço entre lateral e zagueiro do Fluminense. O Lanús deve usar o relógio: quebrar o ritmo, disputar cada lateral como se valesse meio gol e esfriar a arquibancada quando puder. Se a partida ficar emocional demais, os brasileiros crescem com a torcida.

Fisicamente, a conta dos desfalques pesa para o Lanús. O elenco sentiu a maratona nas últimas semanas, e a comissão técnica monitora retornos, mas sem garantia. A estratégia pode incluir substituir cedo peças-chave do ataque para manter a perna viva na reta final, quando o jogo no Maracanã vira pressão total. Para eles, cada minuto que passa sem sofrer gol vale ouro.

E o cenário de classificação, preto no branco, fica assim:

  • Se o Fluminense vencer por dois ou mais gols de diferença, avança às semifinais.
  • Se vencer por um gol de diferença (1 a 0, 2 a 1, 3 a 2...), a vaga será decidida nos pênaltis.
  • Empate ou vitória do Lanús classificam os argentinos.

Individualmente, o jogo de ida deixou alertas e oportunidades. Fábio, mesmo no gol sofrido, mostrou reflexo e segurança com os pés. A defesa encaixou bem a linha de impedimento, mas falhou no momento-chave de cobertura. No ataque, faltou sincronizar a movimentação entre quem vem buscar a bola e quem ataca a última linha. No Maracanã, é noite para o meia receber entre linhas e soltar no tempo certo para a infiltração.

O detalhe da recomposição será vital. O Fluminense não pode perder a bola com o time desorganizado, como aconteceu no lance do gol. Em jogos assim, a primeira reação é quase um mandamento: ou falta tática, ou pressão imediata no portador, ou recuo rápido dos laterais para fechar o corredor. Qualquer hesitação vira corrida contra o próprio gol.

Taticamente, também vale observar a disputa pelos corredores. O Lanús protegeu bem a entrada da área e forçou o Flu a cruzar de longe. A saída para furar esse bloqueio é criar superioridade lateral com três contra dois, puxando o volante argentino para o lado e liberando o passe de ruptura por dentro. É jogada que pede coordenação de movimentos e paciência para repetir até abrir o buraco.

Há ainda o fator psicológico. O 1 a 0 machuca, claro, mas também mexe com o adversário. O Lanús sabe que um gol no Rio praticamente mata o jogo. Essa ameaça tende a deixar o Fluminense mais atento na base da jogada, o que pode, paradoxalmente, abrir mais espaço no terço final para atacar com segurança. Se o time carioca converter a pressão de estádio cheio em ações calmas — sem cruzar por cruzar, sem chutar por desespero —, a virada é perfeitamente possível.

O apito final na Argentina deixou lições. O Lanús foi competitivo mesmo desfalcado, soube esperar o erro e mordeu quando a chance apareceu. O Fluminense controlou boa parte do jogo, mas controlou longe do gol. No Maracanã, a régua sobe: é noite de transformar posse em finalização limpa, de ganhar segunda bola, e de não dar transição de graça. A série ficou mais dura, não impossível.

Na prática, tudo aponta para um segundo jogo de nervos. O Maracanã vai ferver, o Lanús vai testar os limites do relógio e o Fluminense vai precisar de cabeça fria. Com a regra do gol fora fora do jogo, a matemática é simples e o roteiro é conhecido: um gol muda tudo; o segundo define. O resto é execução.

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