
Por que Verstappen chegou a dizer que não ganhará mais corridas
No fim da qualificação do GP da Hungria, Verstappen foi direto ao ponto: "Com esse carro não vou ganhar outra corrida nesta temporada". A frase, dita em tom quase de frustração, reflete a dura realidade que a equipe está enfrentando. Depois de dominar a última década, a Red Bull perdeu ritmo para a McLaren, que vem se mostrando mais veloz nas últimas pistas.
O holandês, que tem apenas duas vitórias até agora, ainda está 97 pontos atrás do líder Oscar Piastri. Essa lacuna, inédita para um piloto em busca de terceiro título consecutivo, sinaliza que algo está muito errado no pacote aerodinâmico e no equilíbrio geral do monoposto.
Além do desempenho, a frase tem outra camada: a comunicação interna. Bernie Collins, analista de estratégia que aparece na Sky Sports, explicou que comentários assim, feitos em público, podem ser “bem desmotivadores” para quem trabalha nas garagens. "Não acho que um piloto diga que não vamos vencer nada como forma de motivar a equipe", afirmou Collins, lembrando que engenheiros podem levar o tom ao pé da letra e sentir que seu esforço não está rendendo.

Como a Red Bull tem reagido ao revés e o que muda dentro da equipe
A resposta da diretoria não foi tímida. Em uma das maiores reviravoltas da história recente da categoria, Christian Horner foi substituído por Laurent Mekies, técnico com passado forte em projetos de aerodinâmica. A troca tem como objetivo acelerar a correção dos problemas fundamentais que vêm se acumulando há temporadas.
Mesmo com a mudança, Verstappen mantém contrato até o fim de 2028, descartando um movimento imediato para a Mercedes, apesar de rumores constantes. O piloto tem deixado claro que deseja continuar na base de Milton Keynes, ao menos até a próxima temporada.
O analista Collins vê um lado estratégico nas palavras do holandês. Ele acredita que Verstappen usa a franqueza como “um jeito poderoso de falar com a equipe: estou realmente insatisfeito, algo precisa mudar”. Essa tática, embora possa causar desconforto imediato, pode servir de gatilho para que todo o departamento técnico redobre o ritmo.
Um exemplo recente da influência de Verstappen nas decisões técnicas aconteceu no GP da Itália, onde ele contestou a sugestão da equipe por mais downforce e optou por um setup de ultra‑baixo downforce. O risco valeu a pena: pole position e vitória. James Hinchcliffe, ex‑piloto de IndyCar, chegou a elogiar a postura, dizendo que Mekies reconheceu o piloto como "o melhor sensor que temos".
Esses episódios revelam a complexa dança entre dados de simulação, feedback ao volante e pressão psicológica. Enquanto alguns engenheiros podem se sentir pressionados pela crítica pública, outros veem oportunidade de mostrar capacidade de adaptação. A mudança de regulamento prevista para 2026 abre ainda mais espaço para a Red Bull inovar, já que historicamente a equipe tem respondido bem a novos pacotes técnicos.
Em suma, a declaração de Verstappen, ainda que polêmica, encaixa-se dentro de um cenário de grande transformação. A equipe está reavaliando liderança, estratégia de desenvolvimento e, possivelmente, o papel de seu piloto como voz central nas decisões de engenharia. O futuro próximo mostrará se essa estratégia de choque vai realmente converter o descontentamento em velocidade nas pistas.
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